Sem dúvida atrasado, mas era importante que ela esperasse um pouco e se acalmasse e preparasse seus escritos e desfizesse seus medos e dúvidas. Carlos estava atrasado, o sabia, e mesmo assim parara no farol e esperava o sinal verde. Era meia-noite e a rua estava vazia, vazia...
Não sabia ao certo se era o sinal que estava quebrado num eterno vermelho ou se estava apenas ansioso demais. Pois pareceram minutos até ele decidir avançar pela rua C. de vez, de um só golpe, a Clara era logo ali e tudo estaria acabado.
A produção dela era incrivelmente superior a tudo que ele havia visto até então, e, de ver em não ver, ignorou o casal que se despedia na calçada, as pernas que recuavam cegamente, o corpo bem ao alcance do carro, a lataria se amassando e a garota, fenomenal marionete, girando no próprio eixo. Viu, para a própria infelicidade, a queda inerte; percebeu o sangue e os gritos aflitos da outra, de pé na calçada. Conseguiu frear imediatamente.
As mãos de Carlos tatearam o veículo em busca do celular, tremeram na maçaneta, desligaram a chave e saíram em busca do pulso da garota no chão.