Mistigris observava da janela de seu apartamento a rede de proteção e as luzes de fora, como se estivesse numa espécie de sonho ou mais profundo devaneio. Era meia-noite e, naquele dia, finalmente fugiria para a rua e viveria a devassidão noturna. Sua dona estava fora de casa e havia uma fresta de deliciosa brisa aberta, os buracos na rede de proteção pareciam grandes o suficiente para aquele velho felino.

Testou a abertura e a ultrapassou com facilidade e até gracejo. Havia a rua distante, todo um universo usualmente trancado do lado de fora. Mistigris quase ronronava sozinho; enfiou a cabeça por um dos losangos, arfou, arquejou, conseguiu enfiar uma das patas, a outra, enroscou-se com as traseiras, livrou uma delas, pendeu, arrependeu e caiu.