Carlos cambaleou até o corpo da mulher, já empapada de sangue e perigosamente pálida; não notara, mas estava chorando de assustado, de medo e, por isso ou outro motivo, mal consegui sentir o pulsar no pulso, não podia quase notar o respirar.

A outra esperneava e o chamava de idiota, de imbecil, de idiota, e Carlos só podia olhar para cima e para baixo e rezar — não era religioso, mas naquela situação... — para que a ambulância chegasse logo e ele pudesse se livrar logo de toda aquela sujeira.

A culpa fora dele, é claro, a outra também o sabia e sentia-se da mesma forma responsável pelo acidente. As sirenes distantes trouxeram o olhar dele ao dela e dela ao dele, Carlos se desculpou ou mexeu os lábios em vão, também a outra tentou. Ele se levantou, deixou que ela ficasse ao lado da uma, acreditou que tudo daria certo para aquelas duas e para ele também...

Com cuidado, a uma foi colocada na ambulância, toda rija, a outra também entrou, e Carlos, após dar dados e suplicar qualquer coisa aos olhos da outra e certificar que estava disposto a tudo, tudo para ajudá-las, foi deixado sozinho na rua C. com seu carro. Enojado, entrou e estacionou, trancou-o e foi, a pé, à casa de Clara.